sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Entrevista do mês - Pedro Leme

Pensamos em fazer uma pequena introdução sobre o entrevistado deste mês, mas sua apresentação foi tão surpreendente, que fomos pegas de surpresa e ficamos sem palavras. Foi nesse clima de descontração que mandamos nosso convidado para o paredão e o metralhamos de perguntas.

Pedro: Olá meninas! Estou com medo de vocês!

Cláudia: Não fique Pedro, somos boazinhas. Quem é o Pedro Leme? Conta para a gente.

Pedro: Como sou um leitor assíduo deste blog, já escrevi essa resposta com antecedência! Me chamo Pedro, tenho 24 anos e sou de São Roque. Como todo típico libriano, sou muito indeciso e naturalmente metido a besta. Trabalho como contador de histórias em uma escola de ensino fundamental de São Roque e atualmente curso Biologia. Já fiz aulas de teatro em São Paulo. Não exerço. Sou técnico em informática. Não exerço. Sou técnico em eletroeletrônica. Não exerço. Já fui vegetariano. Não exerço. Sempre estive rodeado de mulheres, e talvez por isso eu seja uma espécie de psicólogo das minhas amigas. Sou o mais feminista dos homens. Prefiro cachoeira à praia. Prefiro cidade ao campo. Prefiro sorvete de pistache à chocolate. Sou uma vergonha financeira e a preguiça personificada. Fiz meu outing há um ano e sou muito feliz assim. Me julguem!

Kelly: haehuaehuahuehuahuehuehua não acredito nisso! adorei!

Cláudia: huahauhauhauahua. Gente, que graça esse menino. Você gasta demais né? Percebo todo mês pelas postagens no Facebook.

Pedro: Minha fatura chegou sexta e amanhã vou fazer compras. Uma corda para me enforcar! hahahahaha!

Mica: Explique para os leigos: o que é fazer o outing?

Pedro: Fazer outing? Hum... É sair do armário, bebê! =D

Cláudia: E como foi esse processo? Fácil, difícil? Conta pra tia.

Pedro: Tô vendo que esse papo tá ficando sério. Bom, para começar esse processo não se dá do dia para a noite. Levei anos em busca da auto aceitação. Sofri demais na minha adolescência. E só há um ano tive coragem para me abrir com os meus pais.

Mica: O que te levou a criar forças para enfrentar esta luta?

Pedro: Bom Mica, estava na época na auge da badalação. Ia para São Paulo num dia, voltava dois dias depois. Feliz da vida! Tenho muitos amigos em SP. Ótimos amigos. Conheci vários lugares e pessoas interessantes. Mas não podia dividir isso com a minha família. Foi quando depois de um desses finais de semana na gandaia, minha mãe me encostou na parede e de deu uma chave de braço. Não tive como fugir. Foi tudo ou nada. Nos dias que se seguiram foi bem estranho. Mas hoje em dia, lembro e acho graça.


Cláudia: O teatro te ajudou, nesse processo?

Pedro: Sabe Claudinha, tenho a mais absoluta certeza que o teatro foi a coisa que mais me ajudou nesse processo. A possibilidade de viver outras vidas, faz com que você conheça melhor a sua própria. Fora toda a atmosfera do teatro. Meus amigos do teatro foram muito importantes nisso.

Kelly: Pedro, você sempre soube que gostava e se sentia atraído por alguém do mesmo sexo, ou foi algo que, 'BUM', você conheceu alguém que passou a te despertar este tipo de sentimento? Como foi?

Pedro: Eu sempre soube! Na infância isso soava meio estranho e por isso ficava quieto. Na adolescência surgiram as dúvidas e a negação. Só Deus sabe o quanto eu tentei ser “normal”... Passei por cada situação! Hahahaha... Mas hoje me sinto em paz. Sei que isso é o melhor para mim.

Kelly: Tem alguma situação que você possa contar?

Pedro: Primeiro beijo... Primeira transa... Você tem noção do quanto pode ser traumatizante para um gay se deparar com uma xana? Hahahahahaha!!! Fazer o quê com aquilo? Alguém explica? Hahahahahhaa!

Cláudia: Você sofre muito preconceito?

Pedro: Sofria mais preconceito antes de sair do armário. Minha adolescência foi bombardiada. Dinamitada, por coleguinhas de escola e tudo mais... Hoje em dia não percebo tanto isso. Acho que a auto afirmação tem esse poder. As pessoas não “tiram farinha”. =)

Mica: Pedro, no seu trabalho também é tranquilo? Como é a relação no ambiente escolar, que ainda é muito... digamos, tradicional?

Pedro: A escola onde trabalho é a mais tradicional da cidade. Tem 115 anos! Mas levo tudo com muita tranquilidade. No meu trabalho apenas algumas amigas minhas sabem da minha condição. Os pais e as crianças não. Mas acho que, de verdade, isso nem tem importância. Levo meu trabalho a sério e não misturo as coisas. Sou muito comprometido com a educação dos meus pequenos e não quero transferir isso. Sou super discreto, juro! Ninguém nota nada!


Kelly: Como é conviver com crianças e contar histórias e tudo o mais? Eu imagino que seja um grande barato, porque eu sou apaixonada pela ingenuidade delas.

Pedro: Eu sou apaixonado pelo meu trabalho e pelos meus alunos. Eles são um barato! Morro de rir com as coisas que acontecem na escola. Contar histórias também é muito legal. Quando comecei, pensei “As crianças nem gostam mais disso! Vão me deixar por bosta e sair andando”.. Mas eles gostam! Mexer com a imaginação de uma pessoa é incrível! Me sinto o Paul Rudd, em “A razão do meu afeto”. Já assistiram? É massa!

Mica: Eu já! É demais mesmo.

Cláudia: E quanto ao Teatro? Abandonou? Não terei um amigo famoso?

Pedro: Então, em 2010 fui aprovado em uma faculdade pública para um curso que eu sempre quis... Não podia deixar essa chance passar. Como o ritmo do meu curso é muito intenso, não pude continuar com o teatro, que também exige muito do ator. Mas pretendo voltar. Com toda a certeza do universo! Tenho uma prima que diz que eu irei apresentar um programa de bichos para crianças e contar histórias... Tipo aquele Zobomafoo Demoníaco! Hahahahaha!

Mica: E o futuro? Tem planos? Já está escrevendo o roteiro do seu programa?

Pedro: Tenho certeza absoluta que meu futuro está na área de Educação. Não sei fazer outra coisa. E modéstia a parte, faço bem. Tenho três livros infantis escritos, que não tenho coragem de mostrar para ninguém. Quero conhecer o mundo. Quero ficar rico. Quero fazer badalo no Cristo Redentor! Hahahahahahahaha!!



10 comentários :

  1. Adorei a entrevista, achei simplesmente sensacional! Boas perguntas e respostas melhores ainda! hahaha

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  2. Me encantei! Juro!
    minha mãe é contadora de histórias tbm e, desde que me entendo por gente, me vejo envolvida nesse mundo...
    E sempre, sempre admiro quem tem coragem de assumir pro mundo a sua escolha... Minha irmã é gay, minha sobrinha é gay... e por mais que se diga que hj em dia é mais fácil, a realidade não é bem essa...
    Pedro, se eu fosse homem e gay ou se vc fosse hétero, eu me apaixonava! <3

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  3. Meninas, adorei conversar com vocês! Achei tudo lindo!
    Bárbara, que bom que gostou!
    Isabel, que bacana essa sua família. Tenho certeza que a diversidade da tua casa, deve fazer da sua família pessoas muito especiais. Reunião de família deve ser como um filme italiano. rsrs!

    Sabe, as coisas estão longe de serem fáceis. Mas com o tempo aprende-se a ignorar as piadinhas, aprende-se a dar valor só pra o que realmente importa, aprende-se que verdadeiros amigos são pra todas as horas.
    Mas antes de tudo: ENSINA-SE. Ensina-se que as diferenças não existem. Eu tenho certeza que todas as pessoas que me conhecem e que gostam de mim, nunca irão me definir pela minha orientação sexual. Antes de tudo sou filho, irmão, amigo, corinthiano, paulista, ator, biólogo, educador e muitas outras coisas que realmente definem o meu caráter. Talvez seja isso que muitas pessoas não entendem...

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    1. corinthiano... paxonei de vez agora! hehehe
      Pedro, aqui em casa é assim mesmo: em primeiro lugar elas são filhas, irmã, sobrinha... com quem elas namoram é só um detalhe!
      e sim, minha família é italiana... vivemos eternamente numa cena de Amarcord

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  4. Enqto não ficar famoso, posso fazer a vez da Narcizinha no Cristo e vamos gritar muito:Aiii ki Badalooo!!Adoooro!
    Menino eu imagino vc no armário em São Roque, cidade de Miloquita..Jesus segura a luz!!!
    No Blog eu publiquei um post de uma mãe que através de uma conversa com o seu filho de 6 anos, ela já imagina que ele é Gay, até o título é "Todo adulto Gay foi um criança gay", para mim isso é um Fato.Tenho amigos que me dizem isso e noto em crianças que são e ponto.
    Espero que os pais da geração atual tenham isso em mente, pois essa mãe do post disse que ficou besta com tantos e-mails dizendo que gostaria que ela fosse sua mãe, etc...o meu lado Gandhi não entende que a opção sexual possa interferir no amor incondicional de um pai e mãe.
    Não vou falar sobre tantos armários se abrindo e outras coisas que daria um livro, mas é isso mesmo:Vale tudo para ser Feliz e a primeira coisa é se assumir!!
    Adoreiii e adooroo vc seu menino lindo!!
    Parabéns para as meninas pela entrevista!!

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    1. Olá Sun! Li sua entrevista e te achei sensacional!
      Eu li a carta dessa mãe assim que ela foi publicada no Huffinton Post. Confesso pra você que meus olhos encheram-se de lágrimas!
      Infelizmente não tive a sorte desse garoto. Mas também não tive uma educação castradora. As coisas sempre foram bem medidas e meus pais bem modernos.
      Mas desde pequeno (em casa, com a família, com amigos, na rua ou na TV) pessoas na minha condição são bombardeadas com coisas que parecem simples e engraçadas aos olhos de pessoas "normais", mas não são! Piadinhas, apelidinhos, personagens estereotipados na tv, que acabam provocando uma sensação de culpa na cabeça de crianças e jovens, que ainda não tem esse nosso jogo de cintura.

      Meus pais sempre desconfiaram, mas esperavam que eu me abrisse naturalmente. No dia do meu outing, minha mãe me perguntou se eu sabia o que me condicionou a me tornar a pessoa que sou. Não soube responder.
      A dúvida ainda existe. Mas temos certeza que somos mais felizes assim.

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    2. Pedro nada condiciona a sua opção, para mim isso é um fato, sempre existiu um terceiro sexo.
      Na idade média, a historia é muito clara,era comum o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo.Boswell fala muito sobre isso, mas não foi levada a sério por ele ser homossexual.O cristianismo que mudou essa condição, seguindo ao pé da letra o que o Papa nomeado achava certo ou errado..aiii...isso daria uma livro.
      Eu sou contra a tudo que é contra a liberdade de ser feliz para amar.Sou cristã,hetero, mas olho para os lados e para o alto...assim como digo que tem muitos saindo do armário errado.
      Ser entrevistado aqui é purpurina pura, bom demais...curta bastante!

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  5. Respostas
    1. Dois deles são com as histórias que sempre ouvi do meu avô. Mineiro de Camanducaia, sempre tem um "causo" novo pra contar para os netos. O outro é um livro de crônicas, sobre algumas situações que passei na escola com as crianças nesses quase 5 anos!

      =)

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  6. Que lindo!
    Fiquei com um aperto-zinho, aqui, no meu coração.
    Primeiro, porque a entrevista é linda.
    Depois, porque me senti ainda mais privilegiado.
    Por estar ao seu lado há mais de 10 meses. Por compartilhar momentos bons e difíceis ao seu lado.
    Por constatar, nos seus comentários, a pessoa doce, sensível e única que és.

    Pê, um beijo.
    E muito, mas muito sucesso.

    Do seu Van.

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