Em 1998 morei numa das melhores repúblicas que morei na faculdade. Era o sonho feminista: eu e 2 amigos, eles num quarto, eu no meu sozinha, eles limpavam e cozinhavam, eu trabalhava.
Ela era mais conservada, tinha cor, o portão era branco e não tinha essa grade aumentando o portão e o muro. Agradeço a Tatiane Pimentel, que foi lá tirar a foto pra mim. |
Mas um sonho assim tem que chegar ao fim, né!? Alguém tinha que estudar, se formar, fazer algo da vida. E a república durou exatamente um ano. Quando chegou a semana de entregar a casa, eu estava sozinha nela. Os meninos só viriam no fim de semana. Então eu aprontei: F E S T A!
Plena terça-feira, segundo dia de aula do ano, eu decido fazer uma festa de despedida e pra ter certeza que ia bombar, pedi pro organizador do trote anunciar a festa no microfone para toda a faculdade...
Uma das melhores festas da minha vidaaaaa! Tinha tanta gente que nem cabia na casa! E eu totalmente estrela da festa!
A primeira confusão foi quando eu cheguei em casa e dei de cara com o Rodolfo (um dos moradores) que resolveu voltar mais cedo. Ele odiava as minhas festas, mas foi um anjo. Disse que leu o aviso no mural da faculdade e só pensou "Não, Micaela, hoje não!".
Mas a confusão mesmo rolou de madrugada, quando a polícia apareceu na festa pela segunda vez. Eu toda alegrinha "pode deixar, vou desligar o som" e o SEU guarda "não adianta mais, você vai pra delegacia". Eu fiquei uns dois minutos parada sem acreditar, achei que era piada, ameaça, algo pra me assustar. Mas o cara confirmou que a vizinha estava na delegacia dando queixa e eu tinha que ir pra lá - nessa hora ele até ficou envergonhado.
A tal vizinha foi a única que eu não consegui avisar da festa, quando fui na casa dela, não tinha ninguém.
Lógico que eu me recusei a entrar na viatura e pedi para uma amiga me levar. Quando o povo da festa entendeu o que estava acontecendo a reação foi linda: um cara ofereceu a casa dele para continuar a festa, a maioria foi pra lá e uns 20 seguiram comigo para delegacia, para dar apoio. Imaginem a cena de uma galera chegando na delegacia para me acompanhar... no final ficaram uns 5, não tinha jeito de ficar todo mundo sem dar merda.
A primeira coisa que a vizinha fez foi dizer "mas é uma menina a dona da festa?" E eu "não, é uma professora, funcionária pública, que está fazendo a segunda e última festa na casa porque me mudo amanhã". Até o delegado abaixou a cabeça.
Resultado: senhora que precisava dormir passou a noite na delegacia acordada porque a coisa demorou horrores e depois eu fui para a continuação da festa.