Dias atrás, mais especificamente 17 de março, foi comemorado o St.
Patrick's Day - tradicional festa irlandesa, em que as pessoas saem nas
ruas trajando roupas verdes, fazem uma caminhada regada a muita cerveja,
música, enfim... Você já deve ter ouvido falar dela, pois tem sido
comemorada no Brasil nos últimos anos.
Me convidaram para comemorar e eu topei, claro! Eu adoro festas onde rola se fantasiar. Acho divertido, alto-astral, tudo de legal. Publiquei no meu twitter a respeito e recebi uns comentários não muito agradáveis, questionando a "mania que brasileiro tem de comemorar data gringa". Rendeu tanto, que este é o tema de hoje: Festas não tipicamente brasileiras: comemorá-las SIM, e por que não?
Mica: Nossa tenho tanto a gritar na orelha de quem critica as coisas desta forma... Primeiro, pegar um fato isolado como esse e usar de motivo para sentenciar que "brasileiro tem mania de comemorar data gringa" é, no mínimo, inconsistente. Não há como pegar um comentário simples e transformar numa tese confiável. Imagina se a moda pega? Gente vou hoje na Starbucks - "brasileiro tem mania de comprar marca gringa". Tipo, oi? Logo não se pode dizer nada que automaticamente vira verdade na boca dos politicamente corretos de plantão, formados na faculdade de fofoca da esquina.
Kelly: Surgiram comentários como "Importar uma data que não é nossa para fazermos parte de algo mundial é patético", "Mais uma babaquice típica do nosso país", etc e etc. Primeiro: Até quando ouviremos coisas desse tipo? Será que não é hora de amadurecermos os nossos conceitos? Temos as nossas datas daqui, mas não gosto de todas e nem sou obrigada. Se em outro país, alguém teve uma ideia bacana de comemoração, eu não posso participar porque não é 'from Brasil'? Ah gente, que isso! E estas críticas são para tudo né, a começar pelo Halloween... Quando eu era adolescente, eu confesso que fiquei indignada quando percebi como essa festa estava se popularizando por aqui. Mas daí, você cresce, para pra pensar e conclui 'Por que se incomodar tanto?'. Se é mais legal se fantasiar de bruxa do que de saci, vamos aproveitar, ué.
Mica: Isso que você disse me faz pensar no meu segundo ponto: datas nacionais. Quais? A Páscoa que está chegando, por exemplo, é uma data cristã. Por ser cristã ela não é nacional, na verdade ela vem dos primórdios do cristianismo que não começou no Brasil. Vão citar qual? Quando professora estudei a história de todas e sinto decepcioná-los, não há nenhuma data que comemoramos que seja nacional. Abrasileiradas pelos anos sim, mas todas têm suas raízes em outros países e outras culturas. Carnaval começou na Grécia. Festa junina começou na Europa, era uma comemoração a terra e a colheita nos soltícios de verão. O folclore é nacional, mas nunca foi comemorado além de um desenho na escola... Hipocrisia total criticar uma balada pelo St. Patrick's Day.
Kelly: Mica é cultura! Olha só, eu adoro a Festa Junina, mas nunca tinha me dado ao trabalho de pesquisar como ela havia surgido. Enfim, só o seu comentário já responde qualquer pessoa que use as tais críticas anteriormente citadas! E falando sobre as "nossas datas", nem temos tantas assim que nos proporcionem uma festa legal e divertida. Se Halloween, St. Patrick's Day, entre outras, têm feito sucesso por aqui, é hora de questionarmos o porquê e não a possível "falta de bom senso" do brasileiro.
Mica: Claro! Concordo totalmente! As tradições são inventadas. Porque o Brasil não inventa tradições que nos conquistem? O Carnaval e a Festa Junina como conhecemos foi super abrasileirado e muito brasileiro gosta. Eu confesso que só gosto de Festa Junina. Entre um Carnaval e um St. Patrick Day, fico com o segundo. E aí!? Vai me chamar de traidora? Fala com a minha mão...
Kelly: Hahah, concordo com tudo! Se daqui uns anos, outras festas começarem a fazer parte da nossa cultura, provavelmente elas terão uma 'cara brasileira' com o decorrer dos tempos [conforme então o nosso histórico de datas comemorativas]. E penso que, ao invés de afirmarem que estamos 'perdendo a nossa identidade', deveriam relembrar que somos um país de misturas étnicas, de imigrantes, e que talvez, isso não seja nada mais que um resultado da miscigenação.
Mica: É engraçado isso, porque a gente cresce ouvindo histórias de bruxas, mas na hora de comemorar tem que ser Saci... E já repararam como as histórias do nosso folclore estão ligadas a coisas ruins? Saci, Mani, Negrinho do Pastoreio, Cuca, Curupira, Caipora... Nunca gostei de nenhuma, todas me causavam medo. Mas não aquele medo misturado com desejo na linha “queria que existissem bruxas, queria ser uma”, aquele medo só medo. Nunca sonhei em ser Cuca ou Caipora... Eu apenas penso que diversão é algo simples que tem a ver com afinidade e não com local de nascimento. Se fosse assim, paulista gostar de axé seria absurdo e a Pitty seria Ivete.
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E você achando que o pote de ouro no fim do arco íris era coisa brasileira... quem colocou? O saci? |