Pensamos em fazer uma pequena introdução sobre o entrevistado deste mês, mas sua apresentação foi tão surpreendente, que fomos pegas de surpresa e ficamos sem palavras. Foi nesse clima de descontração que mandamos nosso convidado para o paredão e o metralhamos de perguntas.
Pedro: Olá meninas! Estou com medo de vocês!
Cláudia: Não fique Pedro, somos boazinhas. Quem é o Pedro Leme? Conta para a gente.
Pedro: Como sou um leitor assíduo deste blog, já escrevi essa resposta com antecedência! Me chamo Pedro, tenho 24 anos e sou de São Roque. Como todo típico libriano, sou muito indeciso e naturalmente metido a besta. Trabalho como contador de histórias em uma escola de ensino fundamental de São Roque e atualmente curso Biologia. Já fiz aulas de teatro em São Paulo. Não exerço. Sou técnico em informática. Não exerço. Sou técnico em eletroeletrônica. Não exerço. Já fui vegetariano. Não exerço. Sempre estive rodeado de mulheres, e talvez por isso eu seja uma espécie de psicólogo das minhas amigas. Sou o mais feminista dos homens. Prefiro cachoeira à praia. Prefiro cidade ao campo. Prefiro sorvete de pistache à chocolate. Sou uma vergonha financeira e a preguiça personificada. Fiz meu outing há um ano e sou muito feliz assim. Me julguem!
Kelly: haehuaehuahuehuahuehuehua não acredito nisso! adorei!
Cláudia: huahauhauhauahua. Gente, que graça esse menino. Você gasta demais né? Percebo todo mês pelas postagens no Facebook.
Pedro: Minha fatura chegou sexta e amanhã vou fazer compras. Uma corda para me enforcar! hahahahaha!
Mica: Explique para os leigos: o que é fazer o outing?
Pedro: Fazer outing? Hum... É sair do armário, bebê! =D
Cláudia: E como foi esse processo? Fácil, difícil? Conta pra tia.
Pedro: Tô vendo que esse papo tá ficando sério. Bom, para começar esse processo não se dá do dia para a noite. Levei anos em busca da auto aceitação. Sofri demais na minha adolescência. E só há um ano tive coragem para me abrir com os meus pais.
Mica: O que te levou a criar forças para enfrentar esta luta?
Pedro: Bom Mica, estava na época na auge da badalação. Ia para São Paulo num dia, voltava dois dias depois. Feliz da vida! Tenho muitos amigos em SP. Ótimos amigos. Conheci vários lugares e pessoas interessantes. Mas não podia dividir isso com a minha família. Foi quando depois de um desses finais de semana na gandaia, minha mãe me encostou na parede e de deu uma chave de braço. Não tive como fugir. Foi tudo ou nada. Nos dias que se seguiram foi bem estranho. Mas hoje em dia, lembro e acho graça.
Cláudia: O teatro te ajudou, nesse processo?
Pedro: Sabe Claudinha, tenho a mais absoluta certeza que o teatro foi a coisa que mais me ajudou nesse processo. A possibilidade de viver outras vidas, faz com que você conheça melhor a sua própria. Fora toda a atmosfera do teatro. Meus amigos do teatro foram muito importantes nisso.
Kelly: Pedro, você sempre soube que gostava e se sentia atraído por alguém do mesmo sexo, ou foi algo que, 'BUM', você conheceu alguém que passou a te despertar este tipo de sentimento? Como foi?
Pedro: Eu sempre soube! Na infância isso soava meio estranho e por isso ficava quieto. Na adolescência surgiram as dúvidas e a negação. Só Deus sabe o quanto eu tentei ser “normal”... Passei por cada situação! Hahahaha... Mas hoje me sinto em paz. Sei que isso é o melhor para mim.
Kelly: Tem alguma situação que você possa contar?
Pedro: Primeiro beijo... Primeira transa... Você tem noção do quanto pode ser traumatizante para um gay se deparar com uma xana? Hahahahahaha!!! Fazer o quê com aquilo? Alguém explica? Hahahahahhaa!
Cláudia: Você sofre muito preconceito?
Pedro: Sofria mais preconceito antes de sair do armário. Minha adolescência foi bombardiada. Dinamitada, por coleguinhas de escola e tudo mais... Hoje em dia não percebo tanto isso. Acho que a auto afirmação tem esse poder. As pessoas não “tiram farinha”. =)
Mica: Pedro, no seu trabalho também é tranquilo? Como é a relação no ambiente escolar, que ainda é muito... digamos, tradicional?
Pedro: A escola onde trabalho é a mais tradicional da cidade. Tem 115 anos! Mas levo tudo com muita tranquilidade. No meu trabalho apenas algumas amigas minhas sabem da minha condição. Os pais e as crianças não. Mas acho que, de verdade, isso nem tem importância. Levo meu trabalho a sério e não misturo as coisas. Sou muito comprometido com a educação dos meus pequenos e não quero transferir isso. Sou super discreto, juro! Ninguém nota nada!
Kelly: Como é conviver com crianças e contar histórias e tudo o mais? Eu imagino que seja um grande barato, porque eu sou apaixonada pela ingenuidade delas.
Pedro: Eu sou apaixonado pelo meu trabalho e pelos meus alunos. Eles são um barato! Morro de rir com as coisas que acontecem na escola. Contar histórias também é muito legal. Quando comecei, pensei “As crianças nem gostam mais disso! Vão me deixar por bosta e sair andando”.. Mas eles gostam! Mexer com a imaginação de uma pessoa é incrível! Me sinto o Paul Rudd, em “A razão do meu afeto”. Já assistiram? É massa!
Mica: Eu já! É demais mesmo.
Cláudia: E quanto ao Teatro? Abandonou? Não terei um amigo famoso?
Pedro: Então, em 2010 fui aprovado em uma faculdade pública para um curso que eu sempre quis... Não podia deixar essa chance passar. Como o ritmo do meu curso é muito intenso, não pude continuar com o teatro, que também exige muito do ator. Mas pretendo voltar. Com toda a certeza do universo! Tenho uma prima que diz que eu irei apresentar um programa de bichos para crianças e contar histórias... Tipo aquele Zobomafoo Demoníaco! Hahahahaha!
Mica: E o futuro? Tem planos? Já está escrevendo o roteiro do seu programa?
Pedro: Tenho certeza absoluta que meu futuro está na área de Educação. Não sei fazer outra coisa. E modéstia a parte, faço bem. Tenho três livros infantis escritos, que não tenho coragem de mostrar para ninguém. Quero conhecer o mundo. Quero ficar rico. Quero fazer badalo no Cristo Redentor! Hahahahahahahaha!!