O entrevistado deste mês é o Rafael, 23 anos, programador, louco por tatuagens! Adora música e diz que de certa forma se considera um “formador” de opinião.
Kelly: Sobre ser um formador de opinião, você sente que influencia seus amigos? É por isso?
Rafael: Deixe-me explicar melhor: acredito que todos nós que fazemos utilização de uma rede social somos formadores de opiniões de um certo modo. Afinal de contas, tudo que ali é escrito faz o leitor pensar, refletir, ter idéias sobre determinados assuntos e tento utilizar isso como ferramenta para trazer questões úteis e que façam com que as pessoas fiquem menos, digamos... alienadas.
Mica: Algo como pensar antes de postar! Interessante, antes era pensar antes de falar. Isso tem relação com o seu projeto, o Just Smile?
Rafael: Na verdade Mica, o Just Smile pode servir como exemplo. A ideia do projeto Just Smile é simplesmente fazer com que as pessoas consigam enxergar as pequenas coisas que acontecem ao seu redor e que podem fazer toda a diferença no seu dia a dia. Mostrar à elas como pequenas atitudes podem mudar o ambiente ao seu redor, tornando a vida das outras muito melhor, formando uma corrente de felicidade. As redes sociais também podem ser usadas para isso e é essa a mensagem que queremos passar... tentando influenciar outros a seguirem a mesma ideia.
Kelly: Esta ideia de ser feliz e tornar outras pessoas felizes sempre te acompanhou ou foi devido a algum fato na sua vida que, de repente você percebeu que 'precisava fazer a diferença'? Como que isso começou?
Rafael: Kelly, eu sempre fui do tipo de pessoa que se importa muito com as pessoas ao meu redor, tanto aquelas que eu consigo ver e conheço, quanto aquelas que eu não conheço... na minha opnião, a felicidade e o bem estar dependem de todo o conjunto entendido como sociedade, e a grande dificuldade hoje em dia é esta ideia cultural de que o individual é sempre o mais importante. Isso faz com que as pessoas ajam danando de certa forma o espaço e a vida das outras sem pensar que tipo de consequência isso pode trazer. É algo como “a felicidade é contagiosa mas infelizmente o mau humor também”. A sua atitude no ambiente reflete direta e indiretamente nas pessoas ao redor. Um belo dia na internet assistindo alguns videos como de costume mostrei o vídeo de um conhecido V-Log americano a uns amigos que compartilham da mesma ideologia que eu. Neste vídeo o dono do V-Log espalhava pela cidade cartazes com mensagens motivadoras para a população como “eu te acho lindo”, “continue com o bom trabalho”, “tenha um bom dia”, que são mensagens simples mas que ao meu ver fazem toda a diferença no dia a dia das pessoas no geral. A ideia foi amadurecendo e acabamos por criar o Just Smile.
Mica: Isso tem quanto tempo? Como são feitas essas intervenções?
Rafael: Mica, a idéia do Just Smile é um pouco recente ainda, deve ter aproximadamente 2 meses, mas conseguimos um ótimo resultado com as primeiras intervenções. Por hora estamos com pouca atividade porque provavelmente em breve faremos algumas mudanças no projeto. Nossa idéia agora é também levar alegria e ajudar as pessoas mais necessitadas. Estamos formulando um Projeto mais concreto que em breve poderá se tornar uma ONG. Anda cada vez mais difícil organizar isso pelo tempo que nos resta entre trabalho e faculdade mas acho que é tão gratificante que no fim sempre vale a pena.
Kelly: Muito legal mesmo! Antes de falarmos do 'novo projeto' em si, ainda sobre o Just Smile, na fanpage já são 500 e poucas pessoas que curtiram a página. Em 2 meses, isso é considerado um sucesso. Vocês pretendem aumentar a equipe tendo 'representantes' no Brasil todo? Ou pretendem deixar o projeto entre vocês? Qual é a ideia?
Rafael: Esses 500 likes que conseguimos, na realidade foram em grande maioria, na primeira semana de projeto. Isso nos deixou muito felizes porque na verdade, não esperávamos um crescimento tão rápido! O projeto foi muito bem aceito nessa primeira intervenção dos cartazes que fizemos como resposta ao video que nos inspirou o projeto, planejamos até o fim do proximo mês gravar um curta como vídeo resposta ao dono do V-log, mostrando a ele que a ideia foi passada adiante e que causou impacto nas pessoas. A nossa ideia é fazer com que mais pessoas se influenciem dessa ideologia e façam a diferença na vida das pessoas que a rodeiam, todo aquele que ler e que quiser participar sempre será bem vindo. Sei que pode ser um pouco utópico dizer isso mas não nos limitamos só ao Brasil, tenho vários amigos que compartilham da mesma ideia no exterior. Acho que é algo que pode fazer grande diferença em qualquer lugar, basta as pessoas agirem em prol das outras, e são atitudes tão simples e pequenas que não custam nada, isso já existe dentro de todos mas queremos trazer isso para fora.
Mica: Quais os lugares onde já fizeram intervenções? E você tem alguma história para contar sobre esses momentos? Algo que viu ou que alguém te disse no momento que estava rolando a intervenção?
Rafael: Hmmm, tem várias coisas interessantes que aconteceram nos momentos em que estávamos fazendo intervenções. Um dos primeiros lugares que escolhemos foi a Av. Paulista, porque lá há um grande movimento de pessoas todos os dias e lá acabamos encontrando donos de Blogs e V-Logs, que curtiram a ideia e que ficaram um bom tempo debatendo conosco o que poderia ou não ser feito. Os efeitos da intervenção vinham sempre quase que imediatamente: colávamos o cartaz e ao olhar pra trás, as pessoas já estavam ao redor olhando e comentando sobre isso, vinham nos parabenizar e agradecer, é muito gratificante.
Ficamos um pouco chateados com alguns problemas que tivemos com a polícia, guardas metropolitanos e representantes do metrô... compreendemos que realmente não é a forma mais correta sair colando cartazes na rua e que isso de certa forma polui, mas acho que por uma idéia como essa não é tão ruim a ponto de nos repreenderem tão fortemente.
Mica: Nossa, que triste isso. Vemos tantos vídeos de diversos tipos de intervenção na paisagem urbana em outros países, tanta gente produzindo arte pelo mundo, e somos obrigados a lidar com um tipo de repressão tão primária...
Kelly: Que chato... Mesmo com essa resposta da polícia, há como o projeto continuar com as intervenções ou vocês terão que fazer adaptações?
Rafael: Nós, na verdade, usamos como ponto de partida a ideia dos cartazes, mas acho que podemos ir um pouco mais além. Já pensamos em muitas coisas como por exemplo organizar Flashmobs demonstrando de alguma forma nossa ideia. Queremos organizar também eventos com free hugs entre outras coisas... acho que há muita coisa que podemos fazer pra demonstrar nosso projeto e nossa ideia mas como é tudo muito recente, temos muita coisa a estudar. Estamos colhendo ideias e elaborando coisas que possam transmitir nossa ideologia, trazer um simples sorriso no dia das pessoas.
Mica: Free hugs? Explica pra leiga?
Rafael: Então, a ideia do free hugs é já meio antiga: a galera sai pelas ruas com cartazes enormes de “abraços grátis” e saem fazendo palhaçadas e demonstrando amor pelas pessoas que não conhecem. Eu particularmente acho isso fantástico e podemos adaptar isso pra fazer que fique mais com a cara do Just Smile... quem sabe motivar as pessoas a abraçarem umas as outras sem que seja necessário estar em um free hugs (tá é claro que as pessoas não vão sair correndo por aí abraçando estranhos) mas seria legal. HAHAHA
Kelly: Hahah, pois eu imaginei que seriam pessoas abraçando gente que nunca viu na vida, sei lá, dentro de um ônibus, por exemplo... enfim, eu acho essa ideia linda, acho que renderia experiências legais. Mas ao mesmo tempo, não rola um 'medinho'? De ouvir um 'sai daqui'?
Rafael: As pessoas realmente nem sempre estão receptivas. Tem pessoas estressadas e pessoas desconfiadas sim, mas acho que não chega rolar medo disso... o máximo que pode acontecer é a pessoa desviar de um abraço. Mas todos nós sabemos que dentro de todo mundo há aquela criança amorosa que precisa muito de carinho, por mais estressado que esteja. A ideia mesmo é ser mais pró ativo e trazer a felicidade de dentro de você pra fora, não necessariamente abraçando estranhos mas sim fazendo bem ao próximo de maneira geral.
Kelly: Rafael, 'fuçamos' o seu perfil e encontramos citações de 'Sócrates'’, 'Gandhi'’. Quem te inspirou/inspira para o que você é hoje?
Rafael: Bom, meninas, acho que eu não me inspiro nas pessoas mas sim nas ideias. Esses são grandes nomes de pessoas que tiveram grandes ideias e mudaram o mundo de alguma forma, que não tiveram medo de correr atrás e defender seus ideais, independente de quais fossem, que lutaram corajosamente contra todos aqueles que eram contra suas ideologias. Esse tipo de pessoa no geral me inspira, não só as que conhecemos dos livros mas todos que defendem com unhas e dentes seus ideais.
Mica: Rafa, comentamos muito sobre a frase do medo de amar* e como o amor sempre passeia pelo blog, que tal nos falar um pouco disso?
Rafael: Ahhh, Mica, medo de amar? Acho que isso não devia existir, sério! O amor independente da forma e a que é direcionado é sempre bom. As pessoas não deveriam ter medo de viver e correr atrás daquilo ou de quem amam. O amor é um sentimento forte e meio assustador, mas todas as experiências que ele traz são magníificas! Acho que tanto as coisas boas e ruins que acontecem conosco nos trazem grande aprendizado e com certeza quando é por amor sempre vale mais a pena... digo sempre que pra se viver de verdade é necessário arriscar-se. Ame uma mulher, ame seu animal de estimação, ame sua ideologia, ame o mundo que vive, abrace a vida, faça loucuras e seja feliz! Porque a vida é curta demais pra ficar com receio de qualquer coisa que seja, e perder as oportunidades é desperdiçar vida!
Kelly: Rafa, hmmm, hoje você é jovem e acredita no amor, na felicidade e nas pessoas. Com o passar dos anos, as pessoas vão perdendo a fé nos outros (se decepcionam, etc.). Como você se vê no futuro? Digamos que, daqui 10, 20 anos, como você acha que o Rafael vai estar perante o que acredita hoje?
Rafael: Kelly, acredito que você tenha razão quanto as pessoas acabarem por ficar desacreditadas da vida e das pessoas com o passar das decepções, mas no meu caso acho que isso não será um problema. Eu desde muito pequeno sempre fiz o que eu pude pra ajudar as pessoas, animais, plantas e tudo que existe e eu já tive vários problemas e dificuldades com isso. Já sofri bastante por amizade, amor, pessoas, incompreensão. Sinceramente, isso me fez amadurecer e isso já não me afeta mais. Hoje em dia, tenho uma gama de pessoas ótimas ao meu redor e com ideologias muito boas e, hoje posso dizer que também desenvolvi uma forma mais madura de refletir sobre tudo isso. Acho que daqui a uns 10, 20 anos estarei mais velho, talvez mais enrugado e com mais tatuagens, mas vou continuar a mostrar cada vez mais ao mundo como a felicidade é simples e está nas pequenas coisas da vida. Eu acredito que tudo pode mudar e que todo mundo pode ser feliz. Basta querer. Está tudo dentro de você, nesse ponto posso dizer que sou um homem que não desiste fácil, essa é a minha ideologia primária e acho que nada que possa acontecer vai mudar isso em mim.