Em mais de um post, defendemos o direito que cada mulher tem de agir
como bem entender em relação ao seu corpo e sua sexualidade. Este é mais
um post nesta linha, o diferente é o foco.
Mica: Quando defendemos este direito, em geral, foram por acontecimentos ou situações em que mulheres estavam sendo julgadas por fugirem ao padrão considerado “moralmente correto”. Mas nos questionamos: e as garotas que não seguem a linha liberadas? Será que vivem as mil maravilhas ou também sofrem julgamentos injustos?
Kelly: Um mito que existe é que quando se passa dos 20 ou 25 anos, a garota é 'rodada'. Ou seja, no linguajar popular 'deu pra muitos já' ou 'não consegue mais contar nos dedos de uma mão pra quantos ela deu'. Como eu disse, mito. Pode ser que isto ocorra, pode ser que não. E como citado acima, o foco hoje é este: As garotas que já passaram dos seus 20 e alguns anos (ou até bem mais que isso) mas só tiveram relação sexual com um único homem.
Mica: As pessoas não têm imaginação, né!? Por que eu elenquei aqui, rapidinho, enquanto você escrevia, uns 5 motivos que podem levar uma garota a ter poucos parceiros. Lembrei que na minha adolescência as meninas não achavam legal demorar muito pra perder a virgindade. Eu fui uma das últimas da minha turma. Chegou uma época que eu era isolada, elas não falavam comigo porque não podiam falar de algo que eu não sabia. O mais engraçado disso é que isolaram junto uma outra amiga nossa que já tinha transado e só contou pra mim. Acho que julgar a mina que só teve um cara é tão infantil quanto minhas amigas foram nesta época.
Kelly: Olha, depois que cheguei à fase adulta, olhei pro passado e vi o quanto de mentira que os adolescentes contaram. Eu lembro que na minha época, a fase que todas estavam perdendo a virgindade era com 16 ou 17 anos. Se passasse disso, 'NOOOOSSA'. Ok, daí com o passar dos anos você fica sabendo do tanto de gente que só foi perder sua virgindade lá pelos 22 anos, haha, e por aí vai. E dou risada disso, porque as pessoas inventam mentiras o tempo todo sobre sexo. Já li até em revistas que muitas mulheres e até homens, não perdem a virgindade antes dos 20, conforme a grande maioria pensa. Mas enfim, o que isso tem a ver com o assunto principal? É o seguinte: toda vez que falarmos de sexo nem sempre as pessoas serão honestas. E vão criar regrinhas [como esta de com qual idade deve-se perder a virgindade] e esta de que 'Imagina, não se pode chegar aos 30 e ter feito sexo com um cara só'. Meu, naquelas: E DAÍ???
Mica: É a mesma história do “boa de cama”! Eu racho com isso porque o que é ser boa de cama? Sexo bom é algo super pessoal, bom para um pode ser horrível para outro. E se bom é super pessoal, com quantos caras eu transo também é uma escolha pessoal. Aí é que está o ponto: o fato de eu escolher, ou ter vivido momentos que me trouxeram vários caras, não me dá direito de inferiorizar quem só teve um. Mais ainda, eu tenho que saber exatamente porque isso é ruim pra mim. Análise rápida aqui: existe um grupo religioso que prega a virgindade entre jovens - “eu escolhi esperar”. Eu, Micaela, nunca pensei em ser virgem até me casar. Eu simplesmente achei que transar era algo natural que aconteceria quando eu quisesse que acontecesse. Não achava nem que ia ser com o futuro marido, mas com quem eu quisesse. Na minha cabeça tinha que ser um namorado que eu gostasse mais do que os que já tinha tido e que eu sentisse que gostava de mim também. Mas isso sou eu. O pessoal que segue o tal grupo, é o pessoal. Não posso julgá-los. Eu até posso refletir que, do jeito que eu vejo a sexualidade, é muito ruim que as escolhas estejam atreladas a religião. Mas é uma análise muito mais sociológica do que uma regra moral.
Kelly: Com quantos caras fiz sexo e o que levo disso, resulta simplesmente em uma experiência sexual minha. O número não muda o caráter [conforme já falamos no post "What's your number?"]. Se uma pessoa escolheu ter um único parceiro sexual, eu não posso enfiar o dedo na cara da pessoa e afirmar que ela está errada. São escolhas que não dizem respeito aos outros. Eu já tinha visto o tal grupo 'Eu escolhi esperar'. Bom, eu só posso dizer que não, eu não escolhi, ehuehe. Mas se outras pessoas acreditam que serão mais felizes assim, a minha obrigação é respeitar.
Mica: Imagino que neste ponto alguém tenha pensado “ah mas o tal grupo discrimina quem não esperou”. Aposto que sim e tenho uma teoria: uma das formas mais eficientes de dominação é incutindo nos seguidores a ideia de que são melhores que os outros por a seguirem. Há dados históricos disso, mas vou resumir e simplificar. Pensem no nazismo, o que Hitler fez foi convencer os alemães que eles era superiores e portanto tinham o direito de fazer tudo o que fizeram. Se eu convenço um grupo de jovens que guardando o corpo serão superiores aos que não o guardam, estou afirmando muitas coisas implicitamente: superior, melhor, mais amado, mais feliz. E não é só isso que os jovens querem? Segundo ponto da teoria: é fácil? Não. Então como me afirmar nesta escolha? Desprezando, ou negando, tudo que é contra ela.
Kelly: Enfim, se há alguém lendo este post e que nunca transou na vida, ou, se só teve apenas um parceiro e sofre preconceito com isso, eu diria o seguinte: Não ligue. Por mais que seja difícil não se irritar com certos comentários alheios, sério, não dê ouvidos a quem faz o tipo 'eu sou foda, na cama eu esculacho'. Na maioria das vezes, isso não passa de insegurança por parte de quem está se auto-promovendo, afinal, imaturidade a gente percebe nas pequenas ações. Me desculpe quem acha legal debochar dos outros só porque já teve x³ relações sexuais, mas tal atitude é infantil e tosca. Se a pessoa fez sexo com um, dois ou três, não importa. Acredito que seguir seus próprios princípios e não se deixar influenciar por uma sociedade que cria tantas regras e tabus sexuais, te coloca muito mais adiante do que quem está na fase 'sou foda' aí.