sábado, 23 de março de 2013

Ronaldo Inc, muito mais que um sonhador

Quem nunca desejou viver do seu sonho? Poder trabalhar com o que gosta e ganhar por isso, verdadeiramente? É muito difícil ver acontecer, mas quando acontece, nos inspira. Conversamos com o artista plástico Ronaldo Inc que passou de uma pasta de desenhos na mochila para a arte, conseguiu viver do seu sonho e reconhece o quanto isso é difícil (porque essa história de que sonhou e realizou, pois era destino,  não cola mais, né!?).


Mica: Ronaldo, primeiro muito obrigada por topar fazer a entrevista, ficamos muito contentes. :)
Ronaldo: É divertido. Treinei muito no colégio respondendo questionário das meninas. Lembram?
Kelly: haha, caderno de perguntas!
Ronaldo: Tinha várias perguntinhas de adolescente. Eu trollava algumas respostas, claro.

Mica: Pra começar, conta pra gente como a arte entrou na sua vida.
Ronaldo: Desde pequeno eu desenho, tá no DNA... meu pai desenhava mas não trabalhava com isso. Como sempre desenhei, imagens e tudo relacionado sempre me encantou, aí à arte tornar-se um trabalho foi muito sutil e veio tardio talvez.
Mica: Antes você tentou outras coisas?
Ronaldo: Olha só a minha carteira de trabalho que underground: só tenho dois registros e são de office boy... hahaha Tentei trabalhos simplórios, o caminho era a arte mesmo e nem sabia.
Kelly: Os amigos que te incentivaram? Ou você mesmo olhou seus trabalhos e se sentiu confiante?
Ronaldo: Ah! A confiança veio junto com os elogios e críticas dos amigos. Andava com uma pasta de desenhos numa bolsa e mostrava pra deus e o mundo o quer que fosse.
Kelly: Ou seja, no fundo você sabia que poderia acabar dando certo? 
Ronaldo: Sabia que de tanto treinar ficaria bom. Agora a certeza quanto à dar certo comercialmente é tipo jogar garrafas ao mar e esperar elas voltarem com respostas. É muito louco o processo, me sinto uma espécie de "profissão repórter" fazendo uma matéria sobre como tornar-se artista e vencer.

Mica: Há quanto tempo você investe na arte como carreira?
Ronaldo: É um drama mexicano... há uns 10 anos, acho.
Kelly: Você chegou a fazer algum curso? Ou foi autodidata?
Ronaldo: Autodidata total, pois financeiramente não tinha condições de fazer algum curso mas tinha muita vontade. Aí de tanto treinar sozinho o traço próprio vai surgindo e muitas coisas que não são lecionados em cursos surgem no processo, mas acho cursos básicos de desenho essencial para o básico e só.


Mica: Como você se definiria enquanto artista? Tem um estilo que orienta os seus trabalhos?
Ronaldo: Antes o oriental era mais presente, mas não defino mais não.... É um mix de referências e muitas possibilidades de aplicar a arte que nem dá pra segmentar em um estilo. Falo por mim e pra mim, claro.
Mica: Alguns elementos são recorrentes nos seus trabalhos, como os gatos e o traço inc. Isso representa uma identidade?
Ronaldo: Representam sim. Os pássaros, as geishas, olhando cada item você chega um pouco mais próximo da personalidade do artista em música, cinema, enfim...

Kelly: Ronaldo, tenho curiosidade sobre o processo criativo. Você tem "hora" pra pintar? Digo isso porque geralmente as pessoas se incomodam com o barulho, daí optam pela madrugada. Enfim, como é? Rola música? Silêncio? O quê?
Ronaldo: Olha, música sempre. Não tenho hora específica, achava a madrugada melhor para desenhar e criar porém ando priorizando o sono e não varo mais madrugadas adentro. Mas a música é presente mesmo, sejam calmas ou caóticas.

Mica: Há artistas que te inspiram? Quem você considera relevante atualmente?
Ronaldo: Bastante me inspiram. Citar os atualmente... são muitos quase anônimos da mídia, sabe? Tem o Banksy que acho incrível e tem artistas da música que me inspiram no tocante da cultura que reflete no meu trabalho também. Ray Caesar é incrível, posso citar uns mil.
Kelly: Cadê Romero Brito? =P
Ronaldo: Meo deos... mas sabe gente, eu piro em biografias de seja quem for, gosto mesmo de saber a trajetória e tals pra ver como aquela pessoa chegou lá (ou não). Falei isso porque a história de Romero é aquela de vencer e tal, mas o cara é coxinha, né? Considerado tipo o Paulo Coelho das artes e tal. Não vou cuspir nesse prato vai... já li Paulo Coelho pra caramba, mas entendo o argumento dos críticos, tomo como experiência pra mim mesmo, para não me tornar coxinha nas artes.


Mica: Para você, qual o papel da street art no cenário das artes?
Ronaldo: Muito importante. Não só das artes, mas como cultura urbana mesmo, primeiro e melhor lá fora depois levaram mais à sério por aqui no Brasil. Mas street art teve seu boom aos olhos da mídia e ajudou muita gente que estava batalhando há tempos, deu respaldo, né, antigamente tudo era tachado de pixação. Ainda hoje com uma geração mais velha ainda é, mas tá acabando.
Mica: Confessa que você começou pixando muro vai! hahaha
Ronaldo: hahaha, pior que não! Nem tag em trem eu fiz! A maioria começou assim mesmo, mas minha história de arte não começou com spray, que diga-se, comecei a usar bem mais tarde. Quem faz isso gosta da adrenalina sabe, de mostrar no dia seguinte para os brothers, quer ganhar conceito, não tem muito segredo. Eu tenho horror de tomar um enquadro pixando, não serviria para isso. Aliás nem faço minhas artes na rua por causa disso: ficar atento, não ser pego, ter que parar o que está fazendo pra dar explicações. Sempre tomo cuidado para não me colocar como "grafiteiro", pois nem nas ruas estou muito, do graffiti só me apoderei das ferramentas e das referências.

Mica: O que acha das mídias sociais como meio de divulgação de trabalho?
Ronaldo: Ótimas! Viver o nascer da internet, cá entre nós, é um privilégio pra nossa geração, hein. O trabalho chegar aos olhos de pessoas que você talvez nunca veja ao vivo é sensacional.


Kelly: Muita gente não tem a oportunidade de trabalhar com o que gosta. Conte como é, faça inveja nas inimiga. haha =P
Ronaldo: Nossa, sempre penso nisso, gente... já penei um bocado nessa trajetória. Aí nos momentos de fraqueza eu pensava sempre nesse privilégio, ainda mais no Brasil.
Kelly: Dá pra viver de arte no Brasil?
Ronaldo: Dá, mas depende de uma série de fatores de cada um: onde ele aplica sua arte, os contatos, a qualidade e mais contatos, rs.
Mica: O que você aconselha para quem está na luta ou sonha em começar?
Ronaldo: Ter um plano B. hahaha Treinar bastante e ver de perto se possível como funciona a coisa toda. Porque rola às vezes uma ilusão de glamour e quando acha que vai arrasar no SPFW vai parar numa boate na turquia, rs.

Mica: Tem algo que você gostaria de dizer e não perguntamos?
Ronaldo: Hmmm.. quero só deixar a minha opinião/conselho de que todo artista tem uma responsabilidade social e precisa colocá-la em prática! E tenho dito! hahahaha

Para admirar, comprar e contratar:
E-mail: contato@ronaldoinc.art.br

2 comentários :

  1. Respeito muitos os artistas plásticos. Tenho alguns amigos dessa área aqui em Porto Alegre, conheço as dificuldades.
    Realmente acho que contatos é uma das coisas mais importantes, faz a diferença, se alguém importante gostar de sua obra.. decola! Tanta gente com estilos diferentes, com grande qualidade, que simplesmente não decola!
    Nem todo mundo vai ter o sucesso sonhado e mesmo o sucesso pode não ser tão bom assim pra pessoa (vide Basquiat)... fico feliz quando vejo alguém vivendo com seu sonho e o sonho de um artista plástico pode não ser exatamente o de ficar rico com a arte, pode ser o sonho de mostrar a arte apenas, de fazer pensar, sorrir, enojar.....\
    E tem gente que faz arte em lugares que ninguém vê... já criaram até circuito na Inglaterra para ver os canais inacessíveis em que rolavam guerras de arte! hehehe
    Ronaldo, meus parabéns, tua arte é linda e espero realimente que tu tenhas sucesso, que faça sorrir, pensar e cause algum impacto nas pessoas toda vez que eles olharem para uma obra tua... e que consiga o tal de $$$ pq ele é bom pra caralho! hehehe
    Abs

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  2. Para o alto e avante sempre, né Flavius? rs Obrigado!

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