terça-feira, 26 de março de 2013

OST - The Tarantino Collection

Este mês decidimos juntar duas paixões para fazer nossas indicações por aqui: cinema e música. Aposto que não sou a única apaixonada por trilhas sonoras neste mundo. Um dos motivos principais: conhecer novas bandas e artistas. Por isso gosto quando além das músicas especialmente compostas para a trilha, os diretores incluem outras, nos fazendo ouvir músicas que gostamos ou nos apresentando novos artistas.

Nesta linha, meu preferido é Tarantino. Sou apaixonada pelo cinema que ele faz e pela sua escolha de trilhas. Já tive vontade de indicar seus filmes aqui, mas confesso que sua fama está tão alta que achei besteira: tenho a sensação de que TODO mundo conhece e gosta de Tarantino. Assim, a opção de indicar a trilha sonora junto foi perfeita, porque posso indicar tudo do cara.

Cronologicamente, trago pra vocês o filme e uma música adorada da trilha:

Reservoir Dogs (1992) - No Brasil "Cães de aluguel" é até hoje considerado o melhor filme independente já feito. Tarantino já mostrava sua tendência de fazer referências a filmes antigos e na época até se levantou uma ideia de plágio, mas nenhum cineasta ou autor processou. Parece que todo mundo entendeu qual era a proposta do cara e isso virou sua marca. Há cenas quase iguais e Tarantino entrega qual foi o filme inspiração. O filme mostra o antes e o depois de um roubo de diamantes realizado por cinco caras que não se conhecem e se tratam por codinomes de cores. Isso já dá o ar sarcástico que a narrativa traz. Outros elementos sempre presente na obra de Tarantino também aparecem, como violência e narrativa não linear. Ah, e a leve participação do diretor também!


O segundo filme dispensa muitos comentários, Pulp Fiction (1994) fez o diretor cair na graça de todo mundo que gosta um pouquinho mais de cinema e se arrisca a assistir um ou outro filme B. Cenas inesquecíveis como o discurso do personagem de Samuel L. Jackson (que até enjoou de tanto que o povo repetia) e John Travalta com Uma Thrumam dançando daquele jeitinho que todo mundo passou a dançar nos anos 90. Esta é com certeza a trilha mais conhecida de Tarantino.


Adaptado do romance Pum Punch de Elmore Leonard, Jackie Brown (1997) é um dos meus filmes preferidos de Tarantino. Tem todos os elementos comuns, mas com reviravoltas que envolvem dinheiro, armas, roubo, traição e tornam o filme intrigante até o final. A trilha sonora tem papel importante na história e pessoalmente recomendo as 17 faixas integrantes do álbum, com alguns bons diálogos do filme, claro. Mas, como tudo é bom, ficamos com a mais famosinha.


 Chegamos então ao momento pop de Tarantino, naquele filme que todos assistiram, da minha sobrinha à minha mãe e aí você já sabe que seu diretor querido não é mais tão underground assim. Kill Bill Vol. I e II conseguiu mais que isso, conseguiu ser pop, assistido pela geral e manter o ar independente com os elementos tradicionais do cinema de Tarantino. O discurso final de Bill, sobre o superman é uma crítica tão forte e tão verdadeira que não tem como não ficar refletindo sobre isso depois. A trilha, que saiu como Kill Bill Vol. III é novamente impressionante e rolou uma dúvida aqui sobre qual escolher, mas fiquei com as rocks grrrls cantando descalças (no filme porque aqui elas estão em cima do salto).


Em 2007 o diretor participou do projeto Grindhouse junto com Roberto Rodriguez, onde foi responsável pelo filme Death Proof. A história de um ex-doublê que se considera a prova de morte até encontrar garotas que tão loucas quanto ele. Com muito foco nos clichês e nas cenas exageradas, é um filme irônico e divertido. A trilha sonora é até hoje um dos meus álbuns para se ouvir no carro, indo pra balada. Presente especial foi ter me apresentado Dave Dee, Dozy, Beaky, Mick & Tich.


Aí o cara faz um filme redenção que nos permite a morte do tirano e você se vê torcendo muito por um grupo de psicopatas loucos que estão vingando todas as vítimas do nazismo com uma crueldade de igual nível. Com um plus de ter o Brad dando o seu habitual show de interpretação. Bastardos Inglórios (2009) é o líder de bilheteria entre os filmes de Tarantino, ganhou vários prêmios, teve 8 indicações ao Oscar e ainda levou a estatueta de melhor ator coadjuvante com Christoph Waltz no papel do nazista Hans Landa.


O aclamado Django Unchained (2012) eu ainda não assisti, não posso dizer nada. Mas olha só, isso é só dos filmes em que ele é o diretor, fora os que participou como produtor, roteirista, ator... Tem muito coisa boa em filme e música por aí. 



sábado, 23 de março de 2013

Ronaldo Inc, muito mais que um sonhador

Quem nunca desejou viver do seu sonho? Poder trabalhar com o que gosta e ganhar por isso, verdadeiramente? É muito difícil ver acontecer, mas quando acontece, nos inspira. Conversamos com o artista plástico Ronaldo Inc que passou de uma pasta de desenhos na mochila para a arte, conseguiu viver do seu sonho e reconhece o quanto isso é difícil (porque essa história de que sonhou e realizou, pois era destino,  não cola mais, né!?).


Mica: Ronaldo, primeiro muito obrigada por topar fazer a entrevista, ficamos muito contentes. :)
Ronaldo: É divertido. Treinei muito no colégio respondendo questionário das meninas. Lembram?
Kelly: haha, caderno de perguntas!
Ronaldo: Tinha várias perguntinhas de adolescente. Eu trollava algumas respostas, claro.

Mica: Pra começar, conta pra gente como a arte entrou na sua vida.
Ronaldo: Desde pequeno eu desenho, tá no DNA... meu pai desenhava mas não trabalhava com isso. Como sempre desenhei, imagens e tudo relacionado sempre me encantou, aí à arte tornar-se um trabalho foi muito sutil e veio tardio talvez.
Mica: Antes você tentou outras coisas?
Ronaldo: Olha só a minha carteira de trabalho que underground: só tenho dois registros e são de office boy... hahaha Tentei trabalhos simplórios, o caminho era a arte mesmo e nem sabia.
Kelly: Os amigos que te incentivaram? Ou você mesmo olhou seus trabalhos e se sentiu confiante?
Ronaldo: Ah! A confiança veio junto com os elogios e críticas dos amigos. Andava com uma pasta de desenhos numa bolsa e mostrava pra deus e o mundo o quer que fosse.
Kelly: Ou seja, no fundo você sabia que poderia acabar dando certo? 
Ronaldo: Sabia que de tanto treinar ficaria bom. Agora a certeza quanto à dar certo comercialmente é tipo jogar garrafas ao mar e esperar elas voltarem com respostas. É muito louco o processo, me sinto uma espécie de "profissão repórter" fazendo uma matéria sobre como tornar-se artista e vencer.

Mica: Há quanto tempo você investe na arte como carreira?
Ronaldo: É um drama mexicano... há uns 10 anos, acho.
Kelly: Você chegou a fazer algum curso? Ou foi autodidata?
Ronaldo: Autodidata total, pois financeiramente não tinha condições de fazer algum curso mas tinha muita vontade. Aí de tanto treinar sozinho o traço próprio vai surgindo e muitas coisas que não são lecionados em cursos surgem no processo, mas acho cursos básicos de desenho essencial para o básico e só.


Mica: Como você se definiria enquanto artista? Tem um estilo que orienta os seus trabalhos?
Ronaldo: Antes o oriental era mais presente, mas não defino mais não.... É um mix de referências e muitas possibilidades de aplicar a arte que nem dá pra segmentar em um estilo. Falo por mim e pra mim, claro.
Mica: Alguns elementos são recorrentes nos seus trabalhos, como os gatos e o traço inc. Isso representa uma identidade?
Ronaldo: Representam sim. Os pássaros, as geishas, olhando cada item você chega um pouco mais próximo da personalidade do artista em música, cinema, enfim...

Kelly: Ronaldo, tenho curiosidade sobre o processo criativo. Você tem "hora" pra pintar? Digo isso porque geralmente as pessoas se incomodam com o barulho, daí optam pela madrugada. Enfim, como é? Rola música? Silêncio? O quê?
Ronaldo: Olha, música sempre. Não tenho hora específica, achava a madrugada melhor para desenhar e criar porém ando priorizando o sono e não varo mais madrugadas adentro. Mas a música é presente mesmo, sejam calmas ou caóticas.

Mica: Há artistas que te inspiram? Quem você considera relevante atualmente?
Ronaldo: Bastante me inspiram. Citar os atualmente... são muitos quase anônimos da mídia, sabe? Tem o Banksy que acho incrível e tem artistas da música que me inspiram no tocante da cultura que reflete no meu trabalho também. Ray Caesar é incrível, posso citar uns mil.
Kelly: Cadê Romero Brito? =P
Ronaldo: Meo deos... mas sabe gente, eu piro em biografias de seja quem for, gosto mesmo de saber a trajetória e tals pra ver como aquela pessoa chegou lá (ou não). Falei isso porque a história de Romero é aquela de vencer e tal, mas o cara é coxinha, né? Considerado tipo o Paulo Coelho das artes e tal. Não vou cuspir nesse prato vai... já li Paulo Coelho pra caramba, mas entendo o argumento dos críticos, tomo como experiência pra mim mesmo, para não me tornar coxinha nas artes.


Mica: Para você, qual o papel da street art no cenário das artes?
Ronaldo: Muito importante. Não só das artes, mas como cultura urbana mesmo, primeiro e melhor lá fora depois levaram mais à sério por aqui no Brasil. Mas street art teve seu boom aos olhos da mídia e ajudou muita gente que estava batalhando há tempos, deu respaldo, né, antigamente tudo era tachado de pixação. Ainda hoje com uma geração mais velha ainda é, mas tá acabando.
Mica: Confessa que você começou pixando muro vai! hahaha
Ronaldo: hahaha, pior que não! Nem tag em trem eu fiz! A maioria começou assim mesmo, mas minha história de arte não começou com spray, que diga-se, comecei a usar bem mais tarde. Quem faz isso gosta da adrenalina sabe, de mostrar no dia seguinte para os brothers, quer ganhar conceito, não tem muito segredo. Eu tenho horror de tomar um enquadro pixando, não serviria para isso. Aliás nem faço minhas artes na rua por causa disso: ficar atento, não ser pego, ter que parar o que está fazendo pra dar explicações. Sempre tomo cuidado para não me colocar como "grafiteiro", pois nem nas ruas estou muito, do graffiti só me apoderei das ferramentas e das referências.

Mica: O que acha das mídias sociais como meio de divulgação de trabalho?
Ronaldo: Ótimas! Viver o nascer da internet, cá entre nós, é um privilégio pra nossa geração, hein. O trabalho chegar aos olhos de pessoas que você talvez nunca veja ao vivo é sensacional.


Kelly: Muita gente não tem a oportunidade de trabalhar com o que gosta. Conte como é, faça inveja nas inimiga. haha =P
Ronaldo: Nossa, sempre penso nisso, gente... já penei um bocado nessa trajetória. Aí nos momentos de fraqueza eu pensava sempre nesse privilégio, ainda mais no Brasil.
Kelly: Dá pra viver de arte no Brasil?
Ronaldo: Dá, mas depende de uma série de fatores de cada um: onde ele aplica sua arte, os contatos, a qualidade e mais contatos, rs.
Mica: O que você aconselha para quem está na luta ou sonha em começar?
Ronaldo: Ter um plano B. hahaha Treinar bastante e ver de perto se possível como funciona a coisa toda. Porque rola às vezes uma ilusão de glamour e quando acha que vai arrasar no SPFW vai parar numa boate na turquia, rs.

Mica: Tem algo que você gostaria de dizer e não perguntamos?
Ronaldo: Hmmm.. quero só deixar a minha opinião/conselho de que todo artista tem uma responsabilidade social e precisa colocá-la em prática! E tenho dito! hahahaha

Para admirar, comprar e contratar:
E-mail: contato@ronaldoinc.art.br

sábado, 16 de março de 2013

Amigo que é amigo...

Amigo é uma coisa que entra na vida da gente logo cedo e junto com os amigos vêm as lições e frases prontas sobre amizade. Aí a gente cresce com aquela ideia linda e mentirosa: amigo é pra sempre, até mais que amor. Mas de todas essas mentirinhas que nos ensinam, tem uma que é muito perigosa: amigo que é amigo fala as verdades na cara, não passa a mão na cabeça.


Kelly: Amizades, mesmo as mais verdadeiras, às vezes acabam. Não é regra, mas acontece. Por quê? Pelo simples motivo de que pessoas mudam. E mudamos o tempo todo! Só que nem sempre um dos lados está disposto a conviver e se adaptar a isso. Logo, "amigo que é amigo é para todo o sempre" é mito.

Mica: E não significa que a pessoa te odeia, te inveja, te sacaneou ou algo assim, ela apenas seguiu em frente. Também não significa que ela se voltou para o lado negro da força. Mudar de emprego, de escola, de cidade, de profissão, de namorado, de qualquer coisa, faz a vida mudar e, às vezes, com essas mudanças, algumas pessoas não cabem mais, até mesmo na rotina.

Kelly: Exato. Se a gente olhar para trás, quantos amigos passaram por nossa vida? Muito mais do que um dia a gente imaginou, aposto. Eu cresci com essas ideias de que 'amizade verdadeira não morre'. Mas daí, vivendo e amadurecendo, você vê que infelizmente [ou felizmente] não é assim. Daí, o jeito é levar a vida. E amigos novos sempre aparecerão.

Mica: Eu demorei um pouco pra entender isto, precisei lidar com o fim de várias amizades para aprender que isto não é uma perda. Pra falar a verdade isso só fez sentido pra mim quando eu precisei por fim em algumas amizades que estavam me fazendo mal. E não porque eram pessoas horríveis, apenas porque não estávamos mais na mesma sintonia. Eu desejo o melhor para elas até hoje, mas não quero compartilhar a minha vida com elas. Cruel?

Kelly: Acho mais cruel manter uma amizade desonesta do que se afastar, sabe. Só voltando um pouco no assunto ali, para não me entenderem mal: Sim, tenho amizades bem antigas... umas de mais de 10 anos e outro que chega a 20 [amizade de infância]. São especiais. Porém, apesar de tudo, não olho pra essas amizades e digo 'Ohhh, serão para sempre'. Deixo rolar. Criar expectativas não presta, sabe... mais uma das coisas que o tempo ensina.

Mica: Nossa, eu acho que não tenho amizades tão antigas... Mas nem lembro exatamente porque acabaram. O que me norteia hoje em minhas amizades tem a ver com a segunda “verdade” que falamos na introdução, “amigo que é amigo fala as verdades na cara” me embrulha o estômago. Primeira coisa: verdades de quem? Porque o que é uma verdade pra você pode ser uma tolice pra mim e vice-versa. Não radicalizem, pensem em situações cotidianas de uma amizade. Vamos a exemplos: “Mica você diz isso porque não lida bem com críticas”. Verdade. Não lido. E daí? Porque eu tenho que mudar isso pra ser sua amiga? Porque isso é um defeito? E o que é que você precisa tanto me criticar pra provar sua amizade? Acho muito mais justo alguém que aceita meus defeitos do que alguém que quer me mudar.


Kelly: Aí que tá. Assim como relacionamentos amorosos, amizade tem a mesma pegada quanto a aceitar os outros como são. Se fulano ou ciclano te incomodam demais, saia fora. Melhor do que ficar enchendo o saco. Tudo bem que às vezes as pessoas dão conselhos porque querem ajudar. Mas quando o conselho passa a ser um sermão insistente, rola desgaste. Daí não dá.

Mica: Eu estabeleci algumas regras quanto a conselhos hahahaha sério. Servem para eu não ultrapassar o limite de nenhum amigo e como alerta em relação as pessoas que estão na minha vida. 1 - Só digo algo se me perguntam. Às vezes a pessoa só quer desabafar, deixar sair o problema ou a dor de dentro dela e nessas horas o que ela menos precisa é de alguém dizendo o que acha que ela deve fazer da vida dela; 2 - Se eu gosto de você, eu gosto até dos seus defeitos. E rio deles com você. Se isso não é possível, então não é possível a amizade e, 3 - Quando dou conselhos penso no que faria a pessoa feliz dentro das escolhas dela e não das minhas, porque o meu modelo de felicidade serve pra mim, mas não necessariamente para o outro. Se você sonha em ser atriz e me pergunta o que eu acho eu não vou dizer que acho uma coisa quase impossível, porque é impossível pra mim. Eu vou dizer que se é isso que te fará feliz, vai lá e faz. E se der merda, beleza, volta que eu estou aqui. Se a pessoa não é capaz de fazer isso por mim, não vai dar certo.

Kelly: Bom, eu já cometi gafes. Muitas. Mas quando você tem um amigo bacana, ele te avisa da sua mancada. Até dói, porque ninguém erra porque quer. Mas enfim, classifico esta atitude como algo bacana, porque há os "amigos" que não verbalizam seu erro pra você... acostumam-se a falar para os outros. Pronto, daí pode encerrar a amizade de vez. Acredito que quando chega neste ponto não tem mais jeito (pelo menos pra mim). Há quem consiga viver dessa forma, mas são escolhas. Eu opto pela distância, no caso.
Fria? Será? Quem é mais frio: o que termina a amizade ou o que mantém falsidades? Na teoria, muita gente dirá que é preferível terminar, mas na realidade, vivem o oposto e ainda criticam quem faz o contrário. A resposta pra isso: Paciência + Tô nem aí.

Mica: Então, eu entendo um “olha você me magoou”, mas quando a frase começa com “você devia... você precisa... você tem...” Já me escurece a mente. Não devo, não preciso e não tenho que fazer nada. Ao menos que queira, que consiga e que possa. Entende? É isso que me incomoda, aquela linha tênue entre conselho e ordem. Aquela invasão em que o importante não é mais te ajudar e, sim impor o que ela pensa de você e das suas escolhas. Amigo de verdade não precisa estar certo sobre mim, amigo de verdade é capaz de aceitar o que EU sei sobre mim. Parece que o fato de a pessoa se tornar íntima faz ela acreditar que pode (e até deve) sair dando lição de moral para te “abrir os olhos”. Intimidade é uma merda, só traz desgosto e filhos. Detalhe, em amizade nem filhos rola.

domingo, 10 de março de 2013

Leite derramado


Através dos olhos e das memórias de um velho em uma cama de hospital, Chico Buarque nos traz no seu último romance a história de uma família tradicional carioca desde suas raízes portuguesas até os dias atuais. A primeira vista esta síntese dá a ideia de um romance arrastado, pesado, com cara de novela das seis. Mas não tem absolutamente nada disso. 

Primeiro porque em 200 páginas estão concentrados dois séculos de história do Brasil sem falar exatamente disso. Segundo porque não há cronologia lógica. O narrador conta do que lembra, como lembra e vai emendando uma história na outra com um ritmo rápido e envolvente. 

Talvez esta seja uma característica marcante na escrita de Chico, seus romances não respeitam ou determinam sequencias lógicas aos acontecimentos, estão sempre sujeitos as visões, interpretações e lembranças das personagens. Foi assim em "Estorvo" (1991) e "Budapeste" (2003). Dos três, Leite derramado é o que tem o texto mais leve e menos confuso. 

Gosto da cadência que o autor deu ao texto, algo meio "carioca suingue sangue bom". Gosto também das pequenas surpresas, como ver um velho super tradicional contando histórias da sua vida como meu avô contaria e do nada começar a contar histórias escabrosas que nunca imaginaria um avô vivendo. 

Mas eu sou super suspeita para falar de Chico Buarque. O primeiro livro seu que li foi a peça "Calabar" que é apaixonante, desde então ele entrou pra minha lista de autores "tenho que ler tudo que este cara fez/fizer". Até hoje, nenhum me decepcionou. 

Pra fechar bem a indicação vale lembrar que Leite Derramado foi considerado o livro do ano em 2010, ganhou o prêmio Jabuti e o Prêmio Portugal Telecom. Não dá pra não ler. 

"Só sei que Eulálio d'Assunpção Palumba Júnior foi batizado e criado por nós, hoje é esse garotão que a leva para andar de carro e me dá charutos cubanos. Veio aqui em casa outro dia com uma namoradinha de alfinete no umbigo, que não parece nada comunista. Nem o garotão tem jeito de quem distribui panfletos contra a ditadura. Você deve estar fazendo confusão com o outro, aquele Eulálio mais moreno, namorador, que teve um caso com uma japonesa e engravidou a prima. Mas aquele, se não me engano, era filho desse Eulálio garotão com a moça do umbigo, minha cabeça às vezes fica meio embolada. É uma tremenda barafunda, filha, você nem vai me dar um beijo? É desagradável ser abandonando assim, falando com o teto."

domingo, 3 de março de 2013

TPM: Como lidar?

Algo que sempre escuto por aí, é a galera falando sobre como lidar com a TPM. Em geral se dividem em três grupos: "não faço a menor ideia", "é só dar um chocolate" e "mulheres". Então resolvi ajudá-los e criar um guia rápido que vai mudar a sua vida!

1. Comecem aceitando que ela existe e que vão ter que lidar com a tal uma hora ou outra na vida. Mesmo que seu negócio seja beijar rapazes, você tem mãe, talvez irmã, talvez uma chefe. Não tem jeito, não há como eliminar TODAS as mulheres da sua vida;

2. É muito importante identificar qual o tipo de TPM está assolando a vítima, pois para cada tipo há uma solução, mas não pergunte nada. A TPM desenvolve em nós a implicância com perguntas, quase uma alergia, fazendo com que despertem os sintomas de forma aguda: grosserias, xingamentos, ironias extremas, mania de perseguição e choros em demasia acompanharão a resposta. O melhor é observar para identificar:


  • Irritação - cara de monstra com olhos e testas franzidos, passos pesados, intolerância a brincadeiras e frases cotidianas, xingamentos a objetos inanimados como "fdp dessa chave que sumiu" ou "caralho de computador que não obedece". Solução: chocolate, mas tem que ser como se fosse ideia dela, porque se você der o chocolate ela achará que está dizendo que ela está louca de TPM e poderá se voltar contra você;

  • Mimimi - suspiros longos e inesperados, olhar perdido, tendência a reclamar de dores e da vida, olhos marejados com vídeo do youtube de bichinhos sendo resgatados, sai correndo quando alguém tira sarro dela (foi ao banheiro chorar, não a siga), não se veste tão bem como normalmente, usa muito preto e tons pastéis, chega a dar pena de ver... Solução: esqueça o chocolate, ela provavelmente já o comprou. Procure elogiar NATURALMENTE algo que ela sempre faz e não puxe conversas muito pessoais ou filosóficas. As brincadeiras só devem ser feitas se não correr nenhum risco da vítima se ofender, o que é quase impossível;

  • Compulsão - euforia em demasia, silêncio e pernas balançando, come 3 sobremesas e ainda quer um café, vai ao shopping e compra 3 bolsas iguais só mudando a cor, fala de sair, beber, dançar uhu! Solução: não dê corda para essa empolgação toda, é como um porre, quando passa vem a ressaca moral e comumente transforma-se em mimimi, então espere a poeira baixar que tudo vai ficar bem; 

  • O problema é você - não importa o que você faça ou fale, nem o que não faça e não fale, você é culpado. Então aceite que é isso e já que não adianta fazer nada, afaste-se. Você será constantemente xingado até que a TPM passe, mas depois ela vai agir como se NADA tivesse acontecido. 
Viram? O chocolate não é a solução, às vezes ele até piora o caso. Se o tipo não se encaixar em nenhum desses citados, a solução é sempre "ficar na sua". Não insista no contato, nem na amizade, nem no carinho, nem no chocolate. Espere que passa, sempre passa ;)