Era um dia lindo. Céu azul,
pássaros cantando, tão perfeitinho que só faltava uma música serelepe de
fundo. Era o meu segundo dia de trabalho. Meu primeiro emprego. Estava
feliz que só e o dia prometia. Prometia bosta no caso, mas eu não
sabia...
Salto
alto nada combina com trajetos longos feitos a pé. Salto alto combina
com passarela não com calçada e rua. Eu devia saber...
O
trajeto, na verdade, nem era tão longo assim. O ponto de ônibus ficava à
5 min da minha casa. Eu nunca fui lá muito pontual, logo, me atrasei um
pouco. E como era o segundo dia, eu ainda não sabia direito o horário
certo do ônibus e a palhaçada toda.

O
problema em perder um ônibus é que, você sabe, não vai passar outro em
10 min. No caso ali, eu teria que esperar uns 40 min. Enfim, o que me
restou de opção foi ir até um outro ponto que ficava à 30 min dali, na
rodovia, onde passava ônibus toda hora e este fazia o percurso mais rápido. E
lá fui eu, gente. Mancando, ralada, cotovelo sangrando, uma felicidade
que não cabia em mim. Claro que o ônibus também não estaria vazio,
porque, quando o dia pega pra ser uma merda, a desgraça vem completa.
Enfim, a tensão não havia passado. Eu não sabia se ficava olhando pro
relógio ou pro meu cotovelo. Passada a 'etapa ônibus', ainda tinha o
metrô. Depois do metrô, ainda tinha que dar um rolê pra chegar no
escritório. Só sei que quando cheguei [atrasei uns 10 ou 15 min, não
lembro] a primeira pergunta da minha chefe foi 'O que aconteceu?'. Mas
não era pelo atraso. Era porque eu devia estar muito bonita suada,
ofegante e com cara de 'game over'. Restou da chefe ainda
passar merthiolate em mim [que amor]. E assim foi o meu dia, que demorou
horrores pra passar.
Só sei que, nos dias de hoje se eu caísse na rua, poderia ser o emprego dos sonhos, mas eu voltaria pra minha casa, cuidaria de mim e dane-se o resto! Só sei que, quando tenho que andar a pé por muito tempo, não uso salto alto, jamais! Só sei que, depois desse dia, eu não corro mais nem por esporte!!!
Fim.